Uma boa visão depende de dois pontos fundamentais. A primeira é a condição anatômica, fisiológica e correlação óptica das estruturas dos nossos olhos, tais como a córnea e o cristalino, lentes que determinam o foco de luz exatamente sobre a retina ou da íris onde é feito o controle dinâmico da luminosidade. A segunda é a condição neurosensorial onde estímulos fotoquímicos são processados em sistemas integrados corticais produzindo habilidades que se desenvolvem progressivamente e com vigor especial nas diversas “janelas de oportunidade” onde o desenvolvimento de redes neuronais é mais favorecido.
A luz, uma vez convenientemente focada e filtrada pelas estruturas ópticas e refrativas da córnea e cristalino, atinge a retina, onde se inicia um processo de transformação de energia física em informação nervosa através do processo de transdução e codificação que ocorre nas células fotorreceptoras ligadas à rede de neurônios que compõem a retina. Inicia-se ai, o complexo processo de processamento visual, envolvendo sistemas horizontais e verticais, ascendentes e retroalimentados, envolvendo principalmente o sistema visual mas também outros sistemas sensoriais, especialmente a audição. O estimulo iniciado na retina caminhando no sentido ascendente percorrerá três percursos distintos no sistema nervoso central e, todos, funcionalmente importantes.
O primeiro, o mais conhecido deles é o da visão propriamente dita. Nesse trajeto, a informação luminosa percorre um longo trajeto da retina ate o córtex visual que, uma vez chegando às áreas associativas, possibilita a percepção visual. O segundo percurso é o que se dirige ao mesencéfalo, onde a informação luminosa desencadeará reflexos visuoposturais, como a reação de defesa ao nos desviarmos de um objeto atirado em nossa direção.
No terceiro percurso a luz é a fonte da informação do ciclo diuturno, compondo, com suas variações, o ciclo claro/escuro do dia e da noite. Esse ciclo cria um sinal sincronizador que atua sobre o sistema de temporização do organismo. Essa informação é responsável pela organização fisiológica de adaptação do nosso organismo em relação aos ritmos biológicos conhecidos como circadianos, cujo período varia entre 20 e 28h em condições de isolamento (conhecidas como expressão rítmica em “livre-curso”) e que tende a ajustar-se às 24h do dia/noite em condições de vida livre. O padrão rítmico circadiano é encontrado em praticamente todos os seres vivos, tanto os de hábitos diurnos como noturnos.
Desta maneira apenas aproximadamente 80% das fibras do nervo óptico tem destinação visual propriamente ditas.
Reprodução de parte do artigo “Avaliação da Visão Funcional em Distúrbios de Aprendizagem – O papel do oftalmologista nos déficits de visão e aprendizagem”
Autores: Dra. Márcia Guimarães e Dr. Ricardo Guimarães – Novembro de 2013
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