Rua da Paisagem, 220 – Vila da Serra BH / MG
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O processo de alfabetização nas escolas não depende somente de um bom alfabetizador, mas, principalmente, de um educador com visão aberta para o conhecimento e para a possibilidade do desconhecido.
Em dezembro de 2009, recebemos uma mãe de nome Nina, na Instituição Centro de Vivências Despertar para Vida (CVDVIDA), em Vitória-ES, para uma avaliação psicopedagógica. Ela é professora do ensino fundamental e iniciou a anamnese com um depoimento angustiado: ___“Meu filho é medicado desde os 04 anos de idade, hoje ele tem 12 anos e nenhum médico me deu um diagnóstico que eu pudesse me sentir segura. Hoje, sinto nossa família doente. Meu filho encontra-se doente e eu não sei mais o que fazer para ajudá-lo. Ele tem notas abaixo da média na escola e atualmente manifesta comportamento agressivo. Eu tenho consciência de que meu filho não é isso que estão dizendo, mas não sei mais o que fazer”.
Marcamos a primeira sessão de avaliação com Arthur. Um menino franzino, ombros caídos, face pálida, linguagem curta e objetiva. Piscava os olhos o tempo todo e usava a mão na testa, querendo fazer sombra nos olhos. Não tivemos dúvida de qual seria o primeiro teste a ser realizado com Arthur: “Teste de Irlen”. Durante a aplicação do teste, a criança ficou muito incomodada. Foi com extremo tato que conseguimos dar continuidade o exame. No final da avaliação, com o uso dos overlays, detectamos o alívio imediato da criança para leitura do livro apresentado. Seu tom de voz e as feições do rosto tiveram melhora considerável. Chamamos a mãe para presenciar o fato. A mãe chorava de emoção, pois alegava que ela lia as tarefas para o Arthur e ele respondia oralmente. Ela nunca tinha presenciado a leitura dele daquele jeito. A Síndrome de Irlen, até o presente momento, era desconhecida por ela.
Para as psicopedagogas que acompanharam o caso foi um momento de muita emoção; presenciar uma cena de mãe e filho, com sentimentos angustiados e sofridos pela história de vida serem transformados em choro de alegria, oportunidade de conhecimento, capacidade de associação das idéias, e discernimento de fatos é essencialmente um privilégio. Mãe e filho, descobrindo o mundo com um outro olhar. Um cenário de revolução do conhecimento.
Em nossa prática profissional enquanto psicopedagogas, tivemos muitas vivências com vários pacientes. Crianças, adolescentes, adultos e idosos. O conhecimento sobre a Síndrome de Irlen, agrega valor ao nosso cotidiano profissional, criando mais um olhar – dentre tantos que nós exigimos verificar no exercício da avaliação de um paciente.
O Teste de Irlen é uma ferramenta necessária para a prática psicopedagógica na Instituição Centro de Vivências Despertar para Vida. É hora de despertarmos para um novo olhar dentro da realidade que se faz presente nas atitudes e comportamentos das pessoas que julgamos auxiliar.
Leila Landgraf
Psicopedagoga Clínica Institucional e Screener
Presidente do Centro de Vivências Despertar para Vida – CVDVIDA
Ao participar do Curso de Dislexia com o Professor Vicente Martins, no Pré I Simpósio Nacional de Screeners, ocorrido no início de Outubro no Hospital de Olhos, senti-me na obrigação de realizar uma reflexão sobre o processo da escrita.
É comum ouvirmos questionamentos sobre a péssima qualidade das escritas das crianças de hoje: – “Por que antigamente todos tinham letra bonita e agora é esse caos?”
A resposta é muito simples, depois dos estudos sobre a “Psicogênese da Língua Escrita”, os educadores mal informados, descuidaram-se do processo de escrita, o qual envolve não apenas a instrumentação para a evolução do pensamento, em função da comunicação, mas exige também habilidades psicomotoras, as quais requerem uma complexidade maior no amadurecimento da musculatura, preparando assim o braço e os dedos para o ato de escrever, como ocorre na aquisição de toda habilidade motora.
De Ajuriaguerra a Emilia Ferreiro, todas as descobertas são válidas e muito fáceis de identificação na evolução infantil.
A Psicogênese da Língua Escrita é um fato, através dela podemos reconhecer a fase do desenvolvimento do letramento infantil, seja ela icônica, simbólica, silábica, silábica alfabética ou alfabética.
Para que a criança consiga se comunicar com legibilidade, precisamos atender a todos os aspectos de seu crescimento. O trabalho de conquista do Esquema Corporal começa no Maternal, desde o equilíbrio estático, dinâmico, educação de movimentos amplos, reforço dos movimentos de pinça, alongamento e “musculação”, de todo o corpo e neste caso especialmente dos membros superiores, a partir do ombro, até os dedos.
Para a criança escrever, ela precisa estar com o movimento de pinça muito bem definido, segurar corretamente o lápis, apoiando o braço na mesa, prevenindo-se assim de dores futuras, que tornam a escrita sofrida. Para isso a professora de Maternal deve oferece muita massinha, argila, rasgagem de papel, enrolagem de bolinhas, arremesso de bolas de jornal, transporte de materiais, pinturas e desenhos com vários instrumentos e sobre texturas diversas. Até o transporte da mochila da criança é benéfico para reforço dos músculos envolvidos na escrita.
Sabe-se que para desenhar um símbolo escrito, do nosso alfabeto, uma criança tem de ser capaz de reproduzir com clareza e traços bem definidos, um quadrado, um círculo e um losango.
Estas figuras básicas exigem do aluno habilidade para desenhar traços verticais, horizontais e circulares e inclinados. Estes últimos, só aparecem depois que a criança é capaz de cruzar a linha mediana do corpo. Antes disso, ela representa o traço inclinado, tombando o papel.
Mas é comum a criança fazer rabiscos e a mãe ou professores comentarem, -“Ele já escreve o seu nome”???…
A “CAIXA ALTA”, ou maiúscula de imprensa é muito simples, uma vez que exige apenas a representação das formas básicas, mas o processo é complexo. Primeiramente a criança desenha letras soltas no espaço. Depois ela adquire espaçamento (consegue escrever sem riscar uma letra por cima da outra). Em seguida a letra ganha proporcionalidade (todas de tamanho semelhante, o que deve ser no mínimo de dois centímetros, porque nesta fase a criança usa os dedos apenas para segurar o lápis e não pode movimentar o pulso, para não sentir dor, ela trabalha apenas com os músculos maiores que impulsionam o braço). Na última etapa a letra ganha alinhamento, indicando que a criança já é capaz de escrever na pauta.
Todavia o professor tem de estar atento para não deixar o aluno além do tempo necessário, escrevendo em caixa alta. A letra minúscula é muito importante, para que a criança perceba hastes ascendentes e descendentes, lado direito e esquerdo, e adquira os movimentos necessários que vão levá-la à escrita cursiva. A letra minúscula, porém deve seguir a pauta, as letras curtas (a, c, s, r, m, n, z, x, w e v) têm que ser do tamanho da pauta, as hastes ascendentes (l, b, d, t, h, k) tem de tocar a pauta de cima, e as descendentes (q, g, p, z, y), tocam a linha inferior.
A letra cursiva obedece ao mesmo processo evolutivo, e o alfabeto de Freeman é o mais indicado, porque foi comprovado que anatomicamente exige menos esforço da mão, a pessoa só levanta a mão do papel, depois de concluída a palavra. Na escrita cursiva, apenas os dedos se movem, o antebraço é apenas empurrado para direcionar os movimentos, o que garante ao escriba rapidez no ato de escrever, levando-o também a inclinar a letra. A folha deve fazer um ângulo de 30 graus com a beirada da mesa, facilitando assim o apoio na mesa.
Concluindo, para que o processo de aquisição da língua escrita se complete, é necessário que a criança saiba usá-la para se comunicar, de modo espontâneo. Além disso, sua letra tem de ter, espaçamento, proporção, legibilidade e rapidez. No caso da cursiva, os movimentos sejam realmente cursivos e só se interrompam no final da palavra.
É importante que a professora esteja atenta à habilidade de constância perceptiva, (leitura de qualquer tipo de letra), mas tratando-se de escrita caligráfica, o modelo de letra tem que ser sempre o mesmo. Mais tarde a criança poderá escolher seu estilo, mas enquanto aprende, a cópia tem de ser uma reprodução.
Durante a evolução da escrita é importante que se observe a percepção visual do aluno e a resposta ao processamento da imagem. A criança que processa de forma distorcida a imagem gráfica, com certeza terá respostas distorcidas ao escrever, principalmente na cópia, em que além de decodificar a palavra deverá reproduzi-la com fidelidade. Quando não ocorre essa fidelização pais e professores se questionam “como copiar errado”?
Esse, porém é um assunto para outra oportunidade, envolvendo a Ortografia.
Maria Christina Fonseca Penna é Screener e diretora pedagógica do Centro Educacional Ouro Preto (Ouro Preto-MG)
Há mais de quarenta anos trabalho em escolas particulares de ensino comum que incluem entre seus alunos alguns com necessidades especiais. Na escola atual temos alunos que apresentam diagnósticos que se enquadram na Síndrome de Asperger, Síndrome de Tourrette, Deficiência Intelectual, e vários Transtornos do Déficit de Atenção e Hiperatividade e outras dificuldades de aprendizagem. Realizamos um estudo minucioso destes alunos e preparamos um texto que foi trabalhado junto aos professores, com o objetivo de ajudá-los em sua práxis, tendo em vista que a nossa proposta é de turmas reduzidas para atendimento individualizado.
Por suas características particulares, resolvemos dedicar a um aluno. Este Estudo de Caso se transformou em uma monografia para conclusão de Curso de Especialização e, posteriormente, tornou-se uma dissertação de Mestrado.
Trata-se de um adolescente de 14 anos, aluno do 7º ano do Ensino Fundamental. Sua inclusão nesse grupo se deve à necessidade de que ele participe, junto com colegas da mesma idade, das atividades definidas para esse grupo classe.
Esse aluno apresenta deficiências múltiplas, sendo as mais evidentes uma Deficiência Intelectual, Hipotonia Muscular acentuada com Déficit Motor, comprometendo o Movimento Ocular Simétrico, Atemporalidade e Epilepsia, dentre outras dificuldades que interferem no seu processo de desenvolvimento. Por outro lado, trata-se de aluno carismático, aceito por to dos da comunidade escolar, embora alguns adultos demonstrem certo receio de trabalhar com ele. O aluno apresenta uma grande capacidade de relacionamento interpessoal, uma audição excelente, que o leva a se envolver prazerosamente com música.
Quando iniciamos o trabalho, o conceito de inclusão ainda estava duvidoso para nós. Agora já podemos afirmar que é possível incluir um aluno com deficiências múltiplas em uma escola comum.
É importante salientar que só a escola pode oferecer oportunidades de exercício de cidadania, de respeito a normas e aos outros. Horários, uniformes, atividades de classe e extra-classe, são valores que não podem ser abandonados no processo de inclusão, além dos conhecimentos adquiridos, assim como habilidades de convivência em grupo, a oportunidade de trabalhar com uma equipe de colegas em que a sua participação seja efetiva. Temos a ressaltar que as suas escolhas nas relações sociais e afetivas são fontes de prazer e de frustração, tornando-o mais forte para encarar desafios.
Os professores já conhecem melhor o aluno e se sentem mais seguros na elaboração das atividades. Cada disciplina tem características próprias, as orientações gerais que se encontram neste documento são apenas um início do que juntos ainda podemos fazer.
Quando escolhemos o sujeito para realizarmos o nosso trabalho sabíamos que teríamos um grande desafio pela frente, tendo em vista a complexidade do caso.
Hoje, podemos dizer que alcançamos nossos objetivos, embora ainda haja um longo caminho a percorrer, porém melhor ancorados na ciência. Se não fizemos tudo, com certeza dedicamos o máximo de nossos esforços.
Em conversa com a Dra. Márcia, descobrimos que o problema de visão convergente do aluno, que compromete sua percepção visual periférica, poderá ser avaliado no Hospital de Olhos, com um possível tratamento baseado no sistema proprioceptivo.
Uma pesquisa com seres humanos tende a evoluir conforme a evolução do sujeito, e assume as características desse crescimento.
Maria Christina Fonseca Penna é Screener e diretora pedagógica do Centro Educacional Ouro Preto (Ouro Preto-MG)
Nos últimos anos, a relevância da identificação precoce dos Transtornos de Aprendizagem tem se tornado maior, principalmente pelos professores, fonoaudiólogos, família, psicólogos e pedagogos. A incessante busca por novas avaliações e metodologias de reabilitação constitui um grande avanço no diagnóstico precoce e no manejo de indivíduos com risco de apresentar alterações de leitura e escrita.
Os motivos para se estabelecer um protocolo para a identificação e diagnóstico precoce das dificuldades de leitura e escrita são muitos e fáceis de enumerar. O elevado custo financeiro e pessoal de crianças com os transtornos de aprendizagem é uma questão que os pais e professores se identificam.
Ao se estabelecer um diagnóstico precoce de transtornos de aprendizagem, cria-se uma organização de atendimento e estruturação de apoio que visam suprir as necessidades e o desenvolvimento de estratégias compensatórias destes indivíduos. Segundo Muter (2004), “as necessidades das crianças podem ser tanto satisfeitas com precisão quanto manejadas com sensibilidade”.
Quando uma criança é identificada em situação de risco para transtornos de aprendizagem, na idade de 5 a 6 anos, o prognóstico é mais favorável e o processo de reabilitação mais rápido. Isso se relaciona ao fato destas crianças terem adquirido muito menos conteúdo acadêmico e, conseqüentemente, fazem menos compensação do que aquelas com diagnóstico tardio.
Preencher lacunas na habilidade leitora de uma criança com um atraso do desenvolvimento de um ano, na idade de 6 e 7 anos, é muito mais simples do que transpor estas mesmas barreiras em uma criança de 12 anos. Nesta última, compensar estes anos de perdidos no processo de leitura é demorado, sem mencionar a dificuldade para enfrentar as demandas curriculares das escolas.
Outro grande motivador para o diagnóstico precoce reside no fato de que quanto mais a criança é exposta a eventos frustrantes e traumáticos relacionados à vida acadêmica, os sentimentos de fracasso afetam adversamente sua motivação e receptividade. Assim, muitos professores e profissionais reconhecem que o trabalho com as crianças menores se desenvolve com mais facilidade, pois estas ainda não experimentaram estes sentimentos.
E por último temos a questão financeira, uma vez que, identificado precocemente estes alterações, o tratamento de reabilitação seguramente é mais barato, pois a necessidade das sessões é menor do que em casos de diagnóstico tardio.
Laura Niquini de Faria CRFa. 6143 – Fonoaudióloga do Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães e Clínica Qualitá. Mestranda em Neurociências pela UFMG, consultora da Delfos Comunicação, COOPEN e do CEOP.
Em Março de 2014 ocorreu a XXII edição do Curso de Distúrbios de Aprendizagem Relacionados à Visão – DARV, através da qual mais de 90 profissionais, vindos de 5 Estados brasileiros se capacitaram a cerca dos Distúrbios de Aprendizagem relacionados à visão. Já são mais de 5.000 profissionais de educação/saúde capacitados quanto ao tema e esses se localizam em 23 Estados brasileiros.
Na XXII edição do Curso DARV recebemos profissionais das mais diversas áreas de atuação, como médicos (neurologista, psiquiatra e oftalmologistas); educadores; gestores em educação; fonoaudiólogos, psicopedagogos; psicólogos, dentre outros.
Durante o curso tivemos uma brilhante palestra do Prof. Cláudio de Moura Castro, além de aulas dos oftalmologistas e estudiosos do processamento visual Prof. Dr. Ricardo Guimarães e da Profª Dra. Márcia Guimarães e equipe do Departamento de Neurovisão do Hospital de Olhos, dentre outros profissionais renomados das áreas da saúde e/ou educação.
Profa. Dra. Marcia Reis Guimarães
Fundação Hospital de Olhos – Belo Horizonte, MG
Contextualização:
A oftalmologia dedica a maior parte de sua atenção ao estudo e correção dos erros refracionais, alterações da binocularidade e alinhamento entre os olhos e ao estudo de doenças oculares. Embora saibamos que os olhos têm a mesma origem embriológica e representem uma exteriorização do cérebro, pouca atenção ainda é dada a esta relação – devemos estar atentos ao fato de que a Visão é uma habilidade CEREBRAL e que o olho é um captador de estímulos luminosos, transformando-os em estímulos neurológicos que serão processados em diversas sub-áreas especializadas a partir de uma área primária ou V1 – visão envolve contraste, cor, movimento, direcionamento, texturas, tridimensionalidade, contextualização, memorização etc. E é por isto que se considera a visão como o sentido mais impactante do aprendizado escolar até os 12 anos de idade.
Uma boa visão depende de dois pontos fundamentais. A primeira é a condição anatômica, fisiológica e correlação óptica das estruturas dos nossos olhos, tais como a córnea e o cristalino, lentes que determinam o foco de luz exatamente sobre a retina ou da íris onde é feito o controle dinâmico da luminosidade. A segunda é a condição neurosensorial sobre onde e como os estímulos fotoquímicos são processados pelos sistemas integrados cerebrais gerando habilidades que se aprimoram progressivamente e com vigor especial nas diversas “janelas de oportunidade” onde o desenvolvimento de redes neuronais é mais favorecido.
Histórico:
No inicio da década de 80, o governo do estado da Califórnia, preocupado com a inserção no mercado de trabalho de mais de 12 000 adultos considerados analfabetos funcionais como forma de prevenção de criminalidade promoveu um estudo em larga escala desta população. Á frente e coordenando este projeto, a profa. Dra. Helen Irlen, psicóloga educacional da Universidade da Califórnia em Long Beach, observou que uma parcela desta população apresentava sintomas visuais acentuados que os impediam de adquirir e/ou manter uma leitura satisfatória – este grupo recebeu atenção especial por não se enquadrar no quadro clássico de dislexia e outras formas de transtornos conhecidas à época. Após 3 anos de pesquisa sob financiamento federal e como parte de seu trabalho à frente do Departamento de Psicologia, seu trabalho, resultados e critérios visando o rastreamento e identificação dos distúrbios visuais foi apresentado à American Psychological Association em 1983.
Inicialmente chamada de Síndrome da Sensibilidade Escotópica devido à fotofobia acentuada e manifesta preferência de seus portadores por ambientes com pouca luminosidade, a denominação considerava a hipótese de que as distorções estariam associadas a alterações nos bastonetes retinianos.
Embora haja evidências de que portadores de dificuldades à leitura tenham uma distribuição diferente de cones e bastonetes na retina e que estes usem mais informações derivadas da região parafoveal do que os leitores normais (Geiger et Lettvin, 1987, Grosser & Spafford,1989; Spafford & Grosser 1991; Solman, Dain et Keech, 1991) as teorias mais recentes indicam que as alterações ocorreriam na transmissão dos sinais dos sistemas Magno e Parvocelulares ao cérebro (Livingstone, Rosen, Durlane, Galaburda, 1991).
Atualmente o conjunto de sintomas apresentados por portadores desta disfunção perceptual é caracterizado como Síndrome de Irlen (SI). A existência da SI- como entidade clinica individualizada foi evidenciada por Muller (1985) e Adler & Atwood(1987).
Síndrome de Irlen
Todos nós consideramos a leitura como uma habilidade natural e automática porque a realizamos sem esforço algum. Entretanto para muitas crianças e adultos o ato de ler é um verdadeiro pesadelo e esta é a realidade para 10 a 15% da população. A leitura é a habilidade mais difícil e complexa que a espécie humana desenvolveu – e embora nos sejam dados muitos anos para aprender a falar concedemos apenas um ano ou pouco mais para que nossas crianças aprendam a ler. Ler não é intuitivo como falar e embora haja uma área cortical para a linguagem, isto não ocorre na leitura.
Quando se lê, há estimulação da parte posterior do cérebro incluindo o lobo occipital que se ativa pelo formato das letras, o giro angular transcreve os grafemas em fonemas e a região de Wernicke acessa o significado. Nesta síntese, já se pode perceber como são complexos os processamentos neurológicos da leitura e linguagem e infelizmente não concedemos aos nossos alunos um tempo adequado para este aprendizado.
A verdade é que a pressão atual é muito maior: crianças na educação infantil (antiga pré-escola) já são cobradas quanto à capacidade de reconhecer uma letra, associar ao respectivo som e reconhece-las em palavras – não há duvidas de que estamos pedindo demais e muito cedo e muitas delas não estarão maturas para a complexidade exigida para a leitura. As dificuldades podem afetar a auto imagem das crianças e seu interesse pelo aprendizado em geral tornando a mágica do acesso à escola um terrível pesadelo. Por isto, é necessário identificar esta população e resgata-las precocemente antes que a leitura se transforme em dificuldade intransponível.
Excluindo-se os déficits mentais, cegueira, etc, são duas as principais causas especificas de aquisição da Leitura: a Dislexia de desenvolvimento e a Síndrome de Irlen. A Dislexia vem sendo amplamente discutida e já se tem amplo conhecimento da importância do apoio multidisciplinar que não raro será necessário ao longo de toda a vida de seu portador nas formas mais severas de manifestação.
É oportuno que professores e gestores tenham acesso às informações sobre a Síndrome de Irlen.
O reconhecimento da S.Irlen no Brasil se iniciou pelo trabalho realizado na Fundação Hospital de Olhos junto a crianças em idade escolar voltado para a prevenção e saúde visual. O que intrigou os oftalmologistas era o fato de que uma parcela delas, NÃO CONSEGUIA APRENDER A LER, embora se apresentassem dentro da normalidade pelo exame de rotina bem detalhado (refracional, ortopico, etc). Eram espertas, inteligentes, participativas, expressavam-se bem durante os exames, mas não se saiam bem na leitura e havia queixas de fotofobia, prurido ocular, ardência, lacrimejamento e cansaço visual crescente, sonolência , perda da concentração, baixo rendimento escolar e a sensação de que o texto “ia ficando mais ofuscado, cansativo, com letras pareciam tremer ou se agrupar fazendo com que perdessem a atenção e o local onde tentavam ler”.
Curiosamente estas dificuldades também apareciam ao copiar, no computador, ao olhar o quadro negro, na pratica de esportes e até quando andavam de ônibus ou de carro levando-os a ter enjôos e ainda relatavam a ocorrencia de pequenos acidentes, esbarrações em cadeiras, portas, deixando cair cadernos, pastas, copos, etc.
Este conjunto de sintomas que se manifesta de maneira completa ou parcial foi descrito ainda em 1983, pela psicóloga educacional e familiar Helen Irlen. Hoje é internacionalmente conhecido como Síndrome de Irlen.
A Síndrome de Irlen é uma alteração visuoperceptual, causada por um desequilíbrio da capacidade de adaptação à luz que produz alterações no córtex visual e déficits na leitura, tendo caráter hereditário e manifestando-se sob maior demanda de atenção visual, como leitura de texto ou trabalho no computador.¹ Por isto, o exame oftalmológico dos suspeitos deve ir além dos problemas nos olhos e da acuidade visual ( Tabelas com letras de tamanhos decrescentes) feitos em condições estáticas – o exame investiga a oculomotricidade e a eficiência do processamento visual já em nível cerebral.
Para ler, movimentamos os olhos rápida e sincronizadamente envolvendo vários processos cognitivos multimodais – mal comparando, o olho seria o hardware e os déficits no processamento visual uma alteração no software.
O quadro é composto 6 manifestações: fotofobia, problemas na resolução viso-espacial, dificuldades na manutenção do foco, estresse visual, alteração na percepção de profundidade e cefaleias aos esforços visuais prolongados².
Segundo os portadores, o brilho ou reflexo do papel branco contra o texto seja sob luz natural ou fluorescente³ causa irritabilidade, sensação de movimentação das letras que “pulsam, tremem, vibram, confluem ou desaparecem”4 e a leitura passa a ser fragmentada. Além disso, sentem-se inseguros ao dirigir, estacionar, tendo dificuldades com esportes com bola e ao usar escadas rolantes.
A prevalência da S.I. é maior que a da própria Dislexia (estimada entre 3 a 6% da população). Entre bons leitores, está presente em 14% deles, entre maus leitores e portadores de deficits de aprendizagem, as porcentagens crescem para 17 a 46%. É freqüente a co-associação com Déficits de Atenção e Hiperatividade. Nestes, o diagnóstico diferencial pré-intervenção é indispensável6.
Na S.I., ao contrário da Dislexia, não há alterações auditivas, da fala e linguagem. A prolixidade, impulsividade, falta de autocontrole, agitação e hiperatividade dos TDAs e TDAHs merecerão intervenções medicas e/ou muldisciplinares.
As intervenções identificam e neutralizam as faixas de luz mais hipersensibilizantes. Através de transparências de cores especificas, eliminam-se as distorções visuoperceptuais levando de imediato a uma leitura mais fluente e compreensível, caso o portador esteja alfabetizado.
As transparências são um Recurso Assistivo não invasivo, de baixo custo e alta resolutividade, que potencializam o efeito das intervenções multidisciplinares mesmo na própria dislexia, se houver déficits visuais envolvidos. (O custo aproximado de uma transparência é de 20 reais por aluno).
Os portadores da S.I. não têm consciência de suas distorções pois estão habituados a percebe-las sempre que lêem. Por isto, pressupõem que isto ocorre em toda a população – e este fato explica a frustração e baixa auto-estima geradas pela lentidão e esforço na leitura que sentem enquanto que, para seus pares, esta mesma atividade é considerada prazeirosa e natural. Estudos na população carcerária mostraram uma incidência de 82% de portadores de S.I. 9, demonstrando claramente a relação entre a exclusão social e a criminalidade. Os lamentáveis e bem conhecidos efeitos psicossociais desta realidade são a agressividade, baixa escolaridade, desistência profissional e depressão. É ainda nesta situação preocupante que podem estar os milhares de candidatos ao ENEM sobrecarregados pela demanda de “sustentação da atenção à leitura prolongada”, cansaço visual progressivo e perda na compreensão.
O reconhecimento da S.I. pode ser feito por profissionais da saúde e da educação capacitados pelo Método Irlen, aplicado em mais de 40 países. 8
A dependência da visão na aprendizagem é estimada em 80% e o screening, feito após exame oftalmológico; identifica a gravidade das distorções perceptuais quando presentes.
No Brasil, os oftalmologistas da Fundação Hospital de Olhos de Minas Gerais cuja atuação esta voltada à promoção da saúde visual e auditiva na escola constavam que crianças e jovens atendidos ao longo de seus 30 anos de atuação; ainda que tivessem bom desenvolvimento neuropsicomotor e acuidade visual normal pelos exames oftalmológicos de rotina , sem ambliopia, estrabismo e outras patologias oculares; podiam ainda assim ter deficits de aprendizagem por não conseguirem ler satisfatoriamente.
Em 2005, iniciaram-se em Belo Horizonte, no Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães, os estudos brasileiros na área, através de protocolos com grade de exames mais amplos e respaldados em dados trazidos pela neurociência – a VISÃO passou a ser avaliada também por suas habilidades cerebrais e termos como Processamento Visual, Neurovisão, Visão Cortical e Subcortical, processamento espacial, temporal e oculomotricidade passaram a ser consideradas em portadores de disturbios de aprendizagem com exames voltados para a qualidade do Processamento Visual e não apenas do olho e da óptica ocular.
Atualmente, o diagnóstico da S.I requer avaliações multifuncionais, com ênfase na dinâmica (oculomotricidade) e o desempenho visual é posto à prova diante de condições de luminância variadas que desafiam a capacidade adaptativa de resposta e transmissão sensorial.
O que é Síndrome de Irlen?
A Síndrome de Irlen é uma disfunção visuoperceptual relacionada à exposição a certos tipos de iluminação, intensidade, comprimentos de onda e contraste e frequências espaciais que induzem dificuldades no processamento de informações requerendo maior exigência atencional e visual, como é o caso da leitura. As dificuldades se devem principalmente a déficits no Processamento das informações visuais pela Via Magnocelular.
Os pacientes portadores da SI investem grande esforço em atividades de leitura devido a pouca eficiência e distorções que exigem adaptações visuais constantes pelo contraste do tipo figura-fundo, ou seja, ao contraste criado pelo texto impresso contra o papel branco o que lhe provoca a sensação de que o texto está sendo “engolido pelo branco à sua volta” reduzindo o tamanho das letras.
Este esforço visual gera fadiga, lentidão, desconforto, reduz a tolerância e tempo de exposição à atividade de leitura e compromete a manutenção de atenção, memorização e compreensão do texto.
Segundo Irlen, as dificuldades abrangem cinco áreas específicas e podem se manifestar em qualquer faixa etária sob intensidades variáveis de modo parcial ou conjunto.
A primeira manifestação se relaciona à fotofobia, geralmente relatada como percepção de brilho excessivo no papel que compete com o texto impresso desviando a atenção do leitor. Esta fotossensibilidade extende-se a todos os aspectos da vida diária; quando há exposição direta à luz solar direta ou luzes fluorescentes, faróis de carros, spots de luz, ambientes como shoppings e supermercados, bancos, escolas e laboratórios entre muitos outros haverá desconforto.
Em geral, preferem ler à meia-luz, quase no escuro ou paradoxalmente reclamam que a luz está fraca à leitura.Outros comportamentos observados são as mudanças de posição para evitar o ofuscamento, tentativas de fazer sombra sobre o local, levando a mão à testa ou adotando um inseparável boné para diminuir a incidência de luz sobre o papel. Na direção, sentem-se incomodados com brilhos no espelho retrovisor, luzes traseiras e de freio, reflexos dos carros à frente, enjoam e sentem-se incapazes de dirigir na chuva ou sob faróis altos que lhe provocam dores oculares intensas.
Em seguida, temos as dificuldades ligadas à resolução espacial, onde se observam o aparecimento de distorções perceptuais no texto, que produzem desfocamento, movimentação das letras que passam a tremer ou vibrar, se aglomeram ou se justapõem, invertem-se ou desaparecem, brilham, elevam-se do papel, produzem ondas ou mesmo redemoinhos na pagina com texto dentre muitas outras formas descritas pelos pacientes. Em tais condições operacionais de leitura, entonação, pontuação e interpretação tornam-se inviáveis.
As distorções manifestam-se também durante a leitura de pautas musicais levando a dificuldades de interpretação de anotações, perda do local na partitura e preferência por tocar de ouvido, memorizando a partitura para não ter que lê-la ou progredindo pouco mesmo com praticas regulares.
A terceira área se refere a uma redução do alcance focal , com diminuição do numero de letras lidas a cada fixação. Este fato leva à tendência para uma leitura fragmentada ou silábica das palavras, que são decodificadas parcialmente, dificultando o reconhecimento de pistas visuais necessárias à interpretação do significado do texto e a formação de um vocabulário visual adequado.
A manutenção da atenção visual ou foco gera dificuldades porque o texto tende a sumir ou se apresentar desfocado após um pequeno tempo de leitura. Este fato gera a necessidade de seguir a linha com o dedo, perda de compreensão, necessidade de releituras, dificuldade de concentração e transposição de respostas para folhas de gabarito.
Cerca de 50 a 80% dos portadores da Síndrome de Irlen apresentam cefaléia em co-existência às cinco manifestações supra descritas e não raro apresenta-se como queixa principal em pacientes com fotofobia e cansaço aos esforços visuais.
As cefaléias são uns dos principais motivos para consulta oftalmológica em pacientes jovens, ocorrendo em cerca de 8% dos casos. Considera-se que hiperforias (eso ou exo) descompensadas poderiam ser um fator precipitador de enxaquecas; os quadros de enxaqueca ou migrânea são também freqüentes e podem acometer a faixa etária mais jovem, razão pela qual a S. Irlen deve ser considerada entre os fatores etiológicos no extenso diagnóstico diferencial desta população nas clinicas oftalmológica, clinica médica e neurológica.
Finalmente, o estresse visual se apresenta através de uma série de sinais (astenopia) que se revela pelo aumento do piscar, lacrimejamento, tendência a esfregar os olhos seguidamente e ainda de cobrir ou fechar um dos olhos, posições de cabeça aproximando-se ou se afastando do texto, olhos vermelhos, irritabilidade crescente.
Com freqüência os portadores manifestam sinais de agitação motora e demanda por interrupções e paradas para descanso durante leitura que se prolongue além de 10 ou 15 minutos, ou menos, dependendo das características do texto. Há uma tendência em distrair-se em aulas e conferências, “sonhar acordado” buscando o alivio ao estresse visual crescente.
Outros componentes são as dificuldades com a percepção de profundidade, evidenciados em atividades da vida diária como descer uma escada, pegar um objeto na carteira, alcançar uma bola, acompanhar o movimento de uma bola durante uma partida esportiva e visualizar o jogador ao mesmo tempo, pular corda, etc. Adultos relatam dificuldades em estacionar, em manobras mudando de faixa ou fazendo conversões à direita ou esquerda e também em calcular a distância do carro à frente aproximando-se demais ou mantendo distância excessiva por insegurança.
A prevalência da SMI em diversas populações foi investigada por vários autores. Segundo Muller (1985), esta atinge 74% dos adultos com problemas de leitura e 15% daqueles considerados leitores habituais ou acima da média; neste ultimo grupo é comum a adoção de estratégias compensatórias visando minimizar o desconforto visual que os acompanha nestas tarefas. Neste grupo, com escolaridade de nível técnico ou superior, é freqüente a preferência por relatórios ditados, discussões em grupo, preferência por sinopses em lugar de textos completos, dificuldades em ouvir e anotar simultaneamente, raras leituras integrais de livros, mesmo os de alto interesse pessoal. Em leitores de series normais a incidência varia entre 24,8 % ( Robinson et all, 1985) a 45% ( Fisher & Miller, 1987).
Em populações onde há evidentes déficits na aquisição de leitura, a incidência variou de 46 a 50% (Robinson & Miles,1987), Whiting (1986), Adler &Atwood (1987) e Irlen (1983). Em nossa instituição a incidência foi de 83%, justificada pelo fato de ser um serviço de referência e, portanto direcionado para o atendimento deste tipo de dificuldade (pesquisa apresentada no congresso de Neurociências UFMG 2010).
Niquini (2011) encontrou uma prevalência de 17,5% de portadores da SMI em escola da rede publica municipal da cidade de Belo Horizonte entre 450 alunos. Como parte de tese de mestrado em Neurociências pela UFMG, foram analisados ainda o desempenho à leitura pré e pós intervenção com lâminas de bloqueio espectral, ocorrendo significativa melhora de parâmetros como fluência, compreensão, eficiência leitora e movimentação sacádica.
É importante enfatizar que a síndrome pode coexistir com outras dificuldades no aprendizado e, portanto a intervenção para a S.I. não elimina a necessidade de apoio multidisciplinar como o psicopedagógico para reabilitação dos conteúdos educacionais, os fonológicos para os déficits auditivos, da terapia ocupacional quando há alterações na coordenação visuomotora e os medicamentosos, sob orientação neuropsiquiátrica . Com freqüência, uma vez neutralizada a disfotopsia e distorções visuais, seus portadores melhoram progressivamente na leitura e atividades escolares, e vêem reduzida a necessidade de medicamentos voltados para distúrbios atencionais. Por esta razão, muitos colegas neurologistas que trabalham em parceria conosco tem preferido aguardar a resposta às intervenções visuais antes da prescrição medicamentosa habitualmente adotada neste grupo de pacientes.
Mesmo entre os colegas sem interesse direto na área de visão e aprendizagem, os novos conceitos e inter-relações da oftalmologia e neurociências poderão ser úteis para o encaminhamento correto e precoce dos casos suspeitos de déficits na eficiência do processamento visual.
Qual a relação entre os Processamentos Visual e Fonológico em disturbios de aprendizagem ? E na Dislexia ?
Hoje, à luz das contribuições da neurociência já esta bem estabelecida a influencia do processamento visual na leitura e aprendizagem. Inclusive, diversos autores, baseados em evidencias cientificas vem questionando se a própria dislexia não teria como causa básica, um déficit visual atencional e deste modo a tradicional decodificação fônica passaria a representar uma etapa subseqüente no processamento da leitura. Isto explicaria porque parte dos disléxicos após anos de intervenções fonoaudiológicas não respondem satisfatoriamente à reabilitação. E também porque em casos onde o enfoque ortográfico (visual) precede o fônico, a aquisição da leitur a é muitas vezes feita de forma mais rápida e proficiente.
Isto explicaria , segundo alguns autores, porque as crianças que aprendem o alfabeto antes de serem introduzidas à leitura são melhores leitoras do que aquelas que aprendem sons e letras antes do ensino formal de leitura. A inversão e omissão de letras são freqüentes em disléxicos – a sensibilidade ao sequenciamento espacial é um dos pontos preditivos na qualidade de leitura futura tanto em crianças como adultos. Erros de leitura em palavras inventadas ou inexistentes não são explicados por déficits fonológicos.
Há relatos de pacientes com lesão cerebral que mantêm boa consciência fonológica, mas mostram dificuldades com palavras inventadas.
Diante destas evidencias e questionamentos, faz-se necessária uma conscientização por parte de médicos e educadores de que nem todas as manifestações de dificuldades de leitura têm uma causa fonológica. Para este grupo de pacientes a contribuição da oftalmologia é importante e torna-se um diferencial de significativo impacto em beneficio da aprendizagem.
Estima-se que 70 a 80% da aprendizagem até os 12 anos dependa do sentido visual – o reconhecimento de seu impacto em déficits de leitura e aprendizagem e o fortalecimento na capacidade de interação da oftalmologia com os demais profissionais da área de saúde e educação propiciará novas modalidades de intervenções trans e multidisciplinares construindo um melhor futuro educacional e profissional para os portadores destes déficits.
O trabalho da Fundação Hospital de Olhos (Fundação Holhos).
Atualmente, graças ao trabalho da Fundação Hospital de Olhos em Belo Horizonte, já existem 2000 profissionais distribuídos em 25 Estados brasileiros aptos a rastrear a Síndrome de Irlen. São profissionais da saúde e educação capacitados em cursos teórico-práticos de 30 horas em média sobre “Disturbios de Aprendizagem Relacionados à Visão”. Os cursos os preparam para identificar as distorções visuoperceptuais nos portadores da Síndrome e intervir selecionando corretamente os overlays para uso individual. Os overlays são um recurso assistivo de baixo custo, não invasivo e com alto potencial benefico nos casos bem indicados. Este recurso deve ser usado em leituras durante as aulas, tarefas escolares e atendimentos de reforço escolar e intervenções psicopedagógicas, fonológicas, etc, por melhorarem as condições de conforto visual e contraste na leitura.
Através do “Projeto Bom Começo” e em parceria com a UFMG; a Fundação HOlhos acompanha a saúde visual e auditiva desde a pré-escola, buscando detectar, intervir precocemente e prevenir as perdas progressivas e assim assegurar o futuro escolar em caso de déficits. No escopo deste projeto, promove-se ainda work-shops de 8 horas para os professores da rede publica do ensino fundamental ( 6900 professores já receberam esta formação em 8 estados ) conscientizando-os sobre o desenvolvimento e desempenho visual na infância, as habilidades a serem desenvolvidas e os impactos dos déficits na aprendizagem em geral ( áreas visuomotoras, processamento espacial, temporal, tridimensional, etc). Os cursos discutem também as formas de intervenção por integração multidisciplinar incluindo temas da terapia ocupacional, fisioterapia, psicopedagogia etc. Os projetos em cada município abrangendo a zona urbana e muitas vezes também a rural, são realizados pelos profissionais locais devidamente capacitados e sob nossa supervisão. As ações posteriores de recuperação pedagógica dos alunos em defasagem na lecto-escrita e a distribuição dos overlays é delegada aos profissionais locais estimulando a apropriação personalizada da ferramenta segundo o perfil da comunidade.
O “Projeto Bom Começo” já foi adquirido e está em aplicação em Vancouver, Canadá “The Right Start Project” desde 2012. Há também uma modalidade mais completa para o monitoramento continuado e cadastro geral da saude visual, auditiva, cardiovascular, peso, altura, imunização etc de toda a população escolar adquirido pelas prefeituras cujos programas foram desenvolvidos com apoio da Microsoft/ Fundação Bill e Melina Gates.
O Laboratório de Pesquisa Aplicada à Neurovisão – LAPAN é um centro de pesquisa especializada no estudo do processamento visual e no desenvolvimento de tecnologia e inovação, contando com uma equipe multidisciplinar composta por cientistas de diversas áreas e formações. Tem caráter translacional, visando fazer com que as descobertas saiam dos laboratórios de pesquisa e cheguem à pratica clinica.
Nos dias 23 e 24 de Agosto de 2010 a Fundação Hospital de Olhos promoveu o I Curso Internacional Integração Sensorial e Aprendizagem – O Sistema Proprioceptivo – e reuniu mais de 80 profissionais da área da saúde de todo o país.
Para falar sobre o assunto a entidade convidou os renomados especialistas internacionais Dr. Jean Pierre Roll e Dra. Regine Roll, da Universidade de Provence na França, e o oftalmologista português Dr. Orlando Alves da Silva.
Durante o evento foram apresentadas as diversas perspectivas sobre o sistema proprioceptivo, os sintomas que ocorrem em vários departamentos do organismo quando este sistema entra em disfunção e, também, as formas de tratamento.
O tratamento proposto pelo Dr. Orlando Alves da Silva consiste em normalizar o funcionamento do sistema proprioceptivo com novas informações de forma integrada, como a reprogramação postural, palmilhas posturais e prismas ativos. Estes últimos, os prismas, atuam sobre a via retino colicular, que é a via proprioceptiva visual, responsável pela percepção da localização do corpo no espaço.
O tratamento é indicado para pacientes adultos com cefaleias de causa não diagnosticada, associada à insuficiência da convergência ocular, pacientes que têm dificuldade de equilíbrio e visão espacial, que caem com facilidade ou sofrem dificuldade de concentração e memória, dificuldade na coordenação motora de causa não neurológica ou anatômica, dentre outros.
A abordagem é mais uma aliada no tratamento dos pacientes com dislexia, distúrbios de aprendizagem relacionados à visão e outras patologias.
“O intuito da Fundação Hospital de Olhos é fomentar a pesquisa, as discussões e o conhecimento em torno do tema visão e aprendizado. Para isso temos trabalhado com uma metodologia clínica interdisciplinar, apoiada a parcerias com a UFMG, com profissionais da área da saúde e outras instituições”, afirma Dr. Ricardo Guimarães, Presidente da Fundação Hospital de Olhos.