Rua da Paisagem, 220 – Vila da Serra BH / MG
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O Projeto envolvendo a “Dislexia de Leitura” é a síntese de uma filosofia de atuação onde o maior beneficiado é o seu executor, aquele cuja atuação se volta em prol do aluno em dificuldades, do adulto limitado em sua habilidade de se informar pela leitura e do paciente com restrições em suas atividades diárias, estas, o impedem de se integrar com o ambiente que o cerca roubando-lhe a imprescindível oportunidade de plena realização como ser humano e cidadão.
Este projeto, inicialmente voltado para o trabalho médico da prevenção e saúde ocular, na infância, rapidamente se estendeu à escola através de crianças sem alterações oculares mas sob risco social e educacional por dificuldades no processamento visual.
A Visão, graças à evolução tecnológica, onde o processamento cerebral vai aos pouco sendo desvendado e mapeado, tem um impacto enorme na relação do Homem com o mundo. Dos 3 bilhões de estímulos que chegam ao cérebro por minuto, 2 bilhões se originam da visão e, durante uma aula qualquer, cerca de 70 a 90% de todo aprendizado se baseia nas informações colhidas pelo sistema visual!
As informações, em grande parte de natureza não verbal, fez com que nosso “olhar oftalmológico” buscasse raízes na psicopedagogia, na neurologia, nos terapeutas ocupacionais, na fonoaudiologia e psicologia para que, através de uma capilaridade crescente, os resultados no avanço e resgate escolar/acadêmico fossem maximizados.
Assim, através do Projeto “Dislexia de Leitura” tivemos acesso a um novo olhar: o do resgate da cidadania. Iniciado em 2007, este projeto já capacitou 536 profissionais, da área de Educação e Saúde. Através desses profissionais conseguimos compreender as limitações enfrentadas pelos portadores de dificuldades de leitura e cognição.
As várias dimensões da inclusão psico-social, descritas por esses profissionais, foram incorporadas pela equipe do H0lhos naturalmente, se expandindo para um olhar multidisciplinar, que torna muito mais eficiente o resgate individual de cada paciente. O nosso dia-a-dia atual é feito de desafios conquistados: gratos relatos de aprimoramento na leitura, na compreensão – que invariavelmente repercutem na auto-estima – na atmosfera familiar e, acima de tudo, na felicidade daquele ser humano anteriormente cercado de duvidas sobre seu real potencial.
Os déficits de aprendizado são um desafio, uma realidade difícil que abala muitos lares brasileiros desestabilizando a família, por exigir da mãe uma assimetria atencional em prol do filho “com dificuldades escolares” gerando tensões e cobranças no âmbito familiar e educacional com potencial de minar todo um equilíbrio interpessoal.
Conscientes destas nuances sociofamiliares, o H0lhos vem se esmerando em proporcionar uma abordagem responsável para os déficits de aprendizagem visuoperceptual que resulte em melhora rápida e aferível destes pacientes. Neste projeto, temos procurado Educar o Educador, esclarecendo as diferenças entre a Síndrome de Irlen e as demais formas de déficits da leitura e aprendizagem entre as quais destacamos a Dislexia, Déficits de Atenção e Hiperatividade além de assistência aos Traumatismos Cerebrais, Autismo e Visão Subnormal.
A Síndrome de Irlen tem como sintomas principais o desconforto visual que se manifesta pelo lacrimejamento, prurido ocular, fotofobia, dificuldades de sustentação da atenção visual, cefaléias e perda da nitidez da leitura com sensação de movimentação das palavras devido a uma distorção de origem neuroperceptual. Isolados ou em associação, estes sintomas sempre comprometem o desempenho, trazendo prejuízos acadêmicos e profissionais significativos. Embora possam ser severos, têm reabilitação rápida quando tratados, ao contrário da Dislexia, que sempre exigirá apoio interdisciplinar constante, pelo menos até que uma qualificação mínima na lectoescrita seja atingida. Nestes casos o diagnóstico interdisciplinar é fundamental e, através dos cursos de capacitação oferecidos pela Fundação Hospital de Olhos de Minas Gerais, podem ser atingidos. O entusiasmo dos participantes, a quem chamamos de Screeners, é contagiante e se reforça pela dedicação e trabalho realizados por 536 profissionais credenciados em 16 estados brasileiros.
Ao relembrar meu pai, Geraldo Reis, clínico geral em Tanabi, pequena cidade de São Paulo, ainda na década de 60, em sua atividade humanística, sempre assistindo gratuitamente e com extrema disponibilidade ao “Lar das Crianças” e “Lar dos Idosos ” compreendo agora, meio século depois, a extensão de sua realização profissional ao prestar assistência a esses locais. O privilégio de agregar, de assistir, de apoiar modificando em muitas instâncias uma perspectiva de vida e futuro é um privilégio de quem faz, muito mais do que de quem recebe!
É esta percepção que faz do vitorioso “Projeto Dislexia de Leitura”, do grupo multidisciplinar que nele atua e dos screeners credenciados, um compromisso para toda a vida!
Dra. Márcia Guimarães
Médica Oftalmologiasta e Diretora Clínica do HOlhos