Rua da Paisagem, 220 – Vila da Serra BH / MG
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Ao participar do Curso de Dislexia com o Professor Vicente Martins, no Pré I Simpósio Nacional de Screeners, ocorrido no início de Outubro no Hospital de Olhos, senti-me na obrigação de realizar uma reflexão sobre o processo da escrita.
É comum ouvirmos questionamentos sobre a péssima qualidade das escritas das crianças de hoje: – “Por que antigamente todos tinham letra bonita e agora é esse caos?”
A resposta é muito simples, depois dos estudos sobre a “Psicogênese da Língua Escrita”, os educadores mal informados, descuidaram-se do processo de escrita, o qual envolve não apenas a instrumentação para a evolução do pensamento, em função da comunicação, mas exige também habilidades psicomotoras, as quais requerem uma complexidade maior no amadurecimento da musculatura, preparando assim o braço e os dedos para o ato de escrever, como ocorre na aquisição de toda habilidade motora.
De Ajuriaguerra a Emilia Ferreiro, todas as descobertas são válidas e muito fáceis de identificação na evolução infantil.
A Psicogênese da Língua Escrita é um fato, através dela podemos reconhecer a fase do desenvolvimento do letramento infantil, seja ela icônica, simbólica, silábica, silábica alfabética ou alfabética.
Para que a criança consiga se comunicar com legibilidade, precisamos atender a todos os aspectos de seu crescimento. O trabalho de conquista do Esquema Corporal começa no Maternal, desde o equilíbrio estático, dinâmico, educação de movimentos amplos, reforço dos movimentos de pinça, alongamento e “musculação”, de todo o corpo e neste caso especialmente dos membros superiores, a partir do ombro, até os dedos.
Para a criança escrever, ela precisa estar com o movimento de pinça muito bem definido, segurar corretamente o lápis, apoiando o braço na mesa, prevenindo-se assim de dores futuras, que tornam a escrita sofrida. Para isso a professora de Maternal deve oferece muita massinha, argila, rasgagem de papel, enrolagem de bolinhas, arremesso de bolas de jornal, transporte de materiais, pinturas e desenhos com vários instrumentos e sobre texturas diversas. Até o transporte da mochila da criança é benéfico para reforço dos músculos envolvidos na escrita.
Sabe-se que para desenhar um símbolo escrito, do nosso alfabeto, uma criança tem de ser capaz de reproduzir com clareza e traços bem definidos, um quadrado, um círculo e um losango.
Estas figuras básicas exigem do aluno habilidade para desenhar traços verticais, horizontais e circulares e inclinados. Estes últimos, só aparecem depois que a criança é capaz de cruzar a linha mediana do corpo. Antes disso, ela representa o traço inclinado, tombando o papel.
Mas é comum a criança fazer rabiscos e a mãe ou professores comentarem, -“Ele já escreve o seu nome”???…
A “CAIXA ALTA”, ou maiúscula de imprensa é muito simples, uma vez que exige apenas a representação das formas básicas, mas o processo é complexo. Primeiramente a criança desenha letras soltas no espaço. Depois ela adquire espaçamento (consegue escrever sem riscar uma letra por cima da outra). Em seguida a letra ganha proporcionalidade (todas de tamanho semelhante, o que deve ser no mínimo de dois centímetros, porque nesta fase a criança usa os dedos apenas para segurar o lápis e não pode movimentar o pulso, para não sentir dor, ela trabalha apenas com os músculos maiores que impulsionam o braço). Na última etapa a letra ganha alinhamento, indicando que a criança já é capaz de escrever na pauta.
Todavia o professor tem de estar atento para não deixar o aluno além do tempo necessário, escrevendo em caixa alta. A letra minúscula é muito importante, para que a criança perceba hastes ascendentes e descendentes, lado direito e esquerdo, e adquira os movimentos necessários que vão levá-la à escrita cursiva. A letra minúscula, porém deve seguir a pauta, as letras curtas (a, c, s, r, m, n, z, x, w e v) têm que ser do tamanho da pauta, as hastes ascendentes (l, b, d, t, h, k) tem de tocar a pauta de cima, e as descendentes (q, g, p, z, y), tocam a linha inferior.
A letra cursiva obedece ao mesmo processo evolutivo, e o alfabeto de Freeman é o mais indicado, porque foi comprovado que anatomicamente exige menos esforço da mão, a pessoa só levanta a mão do papel, depois de concluída a palavra. Na escrita cursiva, apenas os dedos se movem, o antebraço é apenas empurrado para direcionar os movimentos, o que garante ao escriba rapidez no ato de escrever, levando-o também a inclinar a letra. A folha deve fazer um ângulo de 30 graus com a beirada da mesa, facilitando assim o apoio na mesa.
Concluindo, para que o processo de aquisição da língua escrita se complete, é necessário que a criança saiba usá-la para se comunicar, de modo espontâneo. Além disso, sua letra tem de ter, espaçamento, proporção, legibilidade e rapidez. No caso da cursiva, os movimentos sejam realmente cursivos e só se interrompam no final da palavra.
É importante que a professora esteja atenta à habilidade de constância perceptiva, (leitura de qualquer tipo de letra), mas tratando-se de escrita caligráfica, o modelo de letra tem que ser sempre o mesmo. Mais tarde a criança poderá escolher seu estilo, mas enquanto aprende, a cópia tem de ser uma reprodução.
Durante a evolução da escrita é importante que se observe a percepção visual do aluno e a resposta ao processamento da imagem. A criança que processa de forma distorcida a imagem gráfica, com certeza terá respostas distorcidas ao escrever, principalmente na cópia, em que além de decodificar a palavra deverá reproduzi-la com fidelidade. Quando não ocorre essa fidelização pais e professores se questionam “como copiar errado”?
Esse, porém é um assunto para outra oportunidade, envolvendo a Ortografia.
Maria Christina Fonseca Penna é Screener e diretora pedagógica do Centro Educacional Ouro Preto (Ouro Preto-MG)