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Prevalência da Síndrome de Mears-Irlen em portadores de Dislexia

INTRODUÇÃO

Importantes autores(1-2-3-4) definem a dislexia do desenvolvimento como “sendo uma desordem na aprendizagem da leitura com competência, que acomete crianças com inteligência dentro dos padrões de normalidade, sem deficiências sensoriais, isentas de comprometimento emocional significativo e com oportunidades educacionais adequadas”. A base neurobiológica da dislexia está relacionada a alterações em circuitos neurais corticais em áreas secundárias e terciárias, parieto-temporais e occipitotemporais
esquerdas com envolvimento compensatório dos sistemas anteriores
em torno do giro frontal inferior e sistema posterior occipito-temporal direito(4).
É importante ressaltar que nem todas as dificuldades de leitura são dislexia. Existem outras alterações que podem explicar os problemas com a leitura como, por exemplo, a síndrome de Mears-Irlen (SMI). A SMI é um distúrbio visual-perceptivo cuja base neurológica acredita-se ser um déficit no córtex visual primário.(5-6)

A sensibilidade do sistema visual a certos comprimentos de onda espectrais provoca distorções no processamento pós-retiniano, fazendo com que os impulsos elétricos cheguem ao córtex cerebral em momentos distintos, com perda da qualidade da interpretação visual caracterizando uma desorganização no processamento cerebral das informações recebidas pelo sistema visual(6-7). A SMI afeta 12 – 14% da população geral(6), pessoas de todas as idades, com inteligência normal ou superior à média(8).

Assim, o portador de uma suposta dislexia, reavaliado segundo os critérios da SMI poderia ser reabilitado por meio da neutralização de seus sintomas e efeitos sobre o processamento visual central, diferentemente do que ocorre na dislexia.No presente trabalho avaliamos a prevalência da SMI em pacientes diagnosticados por profissionais da área como disléxicos.

 

METODOLOGIA

A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte sob o número 064/2008. A amostra foi constituída por 37 indivíduos, sendo 28 (75,7%) do sexo masculino e 9 (24,3%) do sexo feminino, alfabetizados, com diagnóstico de dislexia encaminhados ao Holhos, serviço de referência para a SMI. A média de idade foi de 11,8 anos. Para inclusão na pesquisa, o critério utilizado foi o diagnóstico e laudo de dislexia, independente do tipo apresentado. Critérios como sexo, idade e nível sócio-econômico não foram utilizados como instrumentos de inclusão ou exclusão.

Os dados dos pacientes e os resultados dos testes da triagem para a identificação da SMI nos pacientes foram extraídos do banco de dados do Hospital de Olhos de Minas Gerais, atendidos entre 2005 a 2007. Foram selecionadas as respostas aos questionários de Desconforto e Dificuldades com a Leitura, Distorções apresentadas pelo paciente, Overlay selecionada e os testes da Caixa A, Caixa B, Abóbora, Pingüim e Linhas Musicais e o filtro selecionado pelo paciente, todos propostos por Irlen (1987). Os resultados foram confrontados com os escores de normalidade Irlen (1987).

letras

 

 

RESULTADOS

Os resultados mostram uma prevalência de SMI em 93% (34) dos pacientes, e 7% (3) pacientes não apresentaram confirmação do diagnóstico para SMI.

DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Os resultados apontaram um índice percentual muito elevado de indivíduos disléxicos com SMI, distintos daqueles observados na literatura que indicam 46% de co-morbidade(10).

Os resultados obtidos podem estar relacionados ao fato do HOlhos ser um serviço de referência e receber pacientes previamente triados gerando uma amostra “viciada”.Considerando-se que alguns dos sintomas da SMI e dislexia são muito parecidos pode haver confusão ao se determinar um diagnóstico de dislexia baseado exclusivamente nos padrões de habilidades e déficts à leitura em seus portadores. Embora o processamento fonológico seja considerado o fator chave no aprendizado da leitura, fatores adicionais como habilidades na percepção visual(11-12) e nomeação automática(13) são frequentemente subestimados pelos profissionais envolvidos
no diagnóstico e tratamento da dislexia.

 

CONCLUSÃO

Embora a dislexia e a SMI sejam entidades nosológicas distintas, a coexistência de sintomas reforça a necessidade de disléxicos serem avaliados pela metodologia Irlen, evitando diagnósticos falso-positivos nos casos de SMI e, ao mesmo tempo conscientizando os profissionais da área sobre a possível coexistência entre ambas entidades.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ELLIS, A. W. Leitura, escrita e dislexia: uma abordagem cognitiva. 2 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
2- SALLES, J. F., PARENTE, M. A. M. P. & MACHADO, S. S. As dislexias de desenvolvimento: aspectos
neuropsicológicos e cognitivos. Interações: Estudos e Pesquisas em Psicologia,v.9, n 17, p.109-132, 2004

3- SALGADO, C.A. et. al. Avaliação fonouaudiológica e neuropsicológica na dislexia do desenvolvimento
do tipo mista: relato de caso. Salusvita, Bauru, v. 25, n. 1, p. 91-103, 2006.

4- TELES, P. Dislexia: Como identificar? Como intervir? Rev. Portuguesa de Clínica Geral, Lisboa, v.20, n 5, 2004.

5- HOLLIS, J. e ALLEN, P.M. Screening for Meares–Irlen sensitivity in adults: can assisment methods
predict changes in reading speed? Ophthal. Physiol. Opt. v. 26, p.566–571, 2006.