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Educando o Gestor: a gestão educacional e o convívio com os distúrbios de aprendizagem

As melhores escolas fazem constantes investimentos em infra-estrutura, metodologia e qualificação de professores. Mesmo atingindo todas as metas deste aprimoramento técnico, cerca de 15% dos alunos não conseguirão obter um bom aproveitamento. Esta porcentagem são os portadores de “Transtornos de Aprendizado”, objetos da atenção de especialistas em saúde e educação em todo o mundo. A maior parte dos portadores destes distúrbios tem sua causa associada à visão, freqüentemente denominada Dislexia ou Dislexia de Leitura.

O termo dislexia foi reportado pela primeira vez há mais de um século pelo oftalmologista alemão, Rudolf Berlin, que observara distorções perceptivas em crianças que não conseguem reconhecer ou compreender palavras impressas. A Dislexia recebe a atenção de vários profissionais de apoio, entre eles médicos, psicólogos, pedagogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais o que gera uma múltiplas classificações, abordagens terapêuticas, suporte educacional e familiar emprestada à Dislexia de acordo com o foco atuação de cada profissional.

O custo da Dislexia para o indivíduo, escola, família e a sociedade é enorme. A criança disléxica se torna frustrada com sua incapacidade em acompanhar seus colegas na leitura e nos exercícios de classe e de casa. O portador de distúrbio de aprendizagem é freqüentemente agredido por tropeçar em suas dificuldades (muitas vezes caricatas), não raro é criticado e punido pelo próprio professor, que confunde a dificuldade com falta de interesse. È sabido hoje que estas crianças são as que buscam com maior freqüência o convívio com más companhias, não raro se encaminham para as drogas e envolvem-se em acidentes com maior freqüência. Dois estudos nos EUA e um na Inglaterra feitos na população prisional mostraram uma incidência de 80% de achados de dislexia. Curiosamente outro estudo mostrou uma incidência de 50% de uma determinada população de milionários e empresários bem sucedidos. A conclusão é que o disléxico é diferente, dotado de grande capacidade e provavelmente a escola e o professor são os agentes mais importantes na transformação deste jovem em um cidadão bandido ou em um cidadão produtivo e bom.

Na família o disléxico representa um fardo pelas despesas adicionais e freqüentemente um elemento desestabilizador quando o quadro compromete sua sociabilidade. Para a escola o ônus vem no comportamento anti-social e baixo desempenho, que compromete índices de eficiência do educador e pelo custo que as exceções de tratamento que a legislação obriga a escola a dispensar ao disléxico.

Diante da aparente complexidade do problema, não raramente a postura do Gestor de Educação em relação ao problema é passiva permitindo que todas as práticas recomendadas pelo profissional sejam adotadas, buscando adaptar a escola às múltiplas técnicas e abordagens. È de se esperar que a atitude de obediência muitas vezes conflite com a metodologia e rotina da escola. Quando o Gestor compreende o problema ele é capaz de contribuir na criação de programas de apoio aos profissionais especializados, gerando sinergia com conseqüentes benefícios para o aluno, para o profissional e para a própria escola. Em uma segunda etapa é possível uma atitude ainda mais elaborada de gestão, criando junto com os profissionais de apoio políticas institucionais, que transformarão um problema em vantagem estratégica.

Como sair de uma posição passiva e de impotência diante de um problema que não consegue consenso nem mesmo entre os especialistas para uma atitude ativa de compreensão e gerência, orientando, coordenando e participando da solução?

Não há proposta de solução mágica para um problema tão antigo e tão complexo. Assim como não teremos solução antes da compreensão do problema. Mas ela é simples, precisamos primeiro compreender que a Dislexia é na realidade uma Síndrome única, muito heterogênea, com manifestações múltiplas (afetando principalmente o sistema visual e auditivo) e de intensidade variável.

Ao Gestor cabe a responsabilidade de conhecer o problema qualitativa e quantitativamente e seu impacto na sua escola. Só então ele, em trabalho com os profissionais de apoio já envolvidos na abordagem da dislexia, acumulará conhecimento e experiência que lhe servirão de base na tomada de decisões. Dessa maneira, poderá sair da atitude passiva e obediente para adotar uma atitude inicialmente colaborativa e, posteriormente, gerencial e se desejar, em seqüência, de liderança.

É um caminho a ser percorrido que começa com muita simplicidade e com elementos básicos da aprendizagem como a avaliação das habilidades sensoriais e, especialmente, visual e auditiva de cada aluno. Porém, não há mudança possível se não for precedida da EDUCAÇÃO DOS EDUCADORES.

O objetivo principal do curso EDUCANDO O GESTOR, sobre os “Transtornos de Aprendizagem relacionados à Visão”, é fazer esta introdução sobre a Dislexia, desmistificar o distúrbio, mostrar sua importância sobre a capacidade de aprender e sobre o comportamento do aluno e sugerir abordagens ao gestor educacional. Este conhecimento dará ao Gestor a oportunidade de participar dos esforços feitos pelos profissionais que cuidam da dislexia na escola e permitirá a ele aumentar sua harmonia com estes educadores e, posteriormente, evoluir para uma atitude gerencial e estratégica.

Dr. Ricardo Guimarães Oftalmologista, diretor do Hospital de Olhos e presidente da Fundação Hospital de Olhos.